sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

40ª aniversário do Dia D

O uso da linguagem é uma arte que pode causar guerras, ou até vencê-las. Aí está um discurso do presidente dos Estados Unidos, na época, Ronald Reagan, realizado na Normandia em 6 de junho de 1984, Point du Hoc, França.

40ª aniversário do Dia D

Nós estamos aqui para relembrar aquele dia na história quando as forças aliadas entraram na batalha para recuperar este continente para a liberdade. Por longos quatro anos, grande parte da Europa tinha sido coberta por uma terrível escuridão. Nações livres caíram, judeus agonizavam nos campos, clamando por libertação. A Europa estava escravizada e o mundo almejava seu resgate. Aqui, na Normandia, o resgate começou. Aqui, os aliados se levantaram e lutaram contra a tirania, em uma inigualável tarefa na história humana.

Nós entramos por um ponto exposto e abandonado na costa norte da França. A atmosfera é agradável, mas há 40 anos atrás, estava pesada pela fumaça e o grito de homens, preenchida pelo som de rifles e o barulho dos canhões. No entanto, na manhã de 6 de junho de 1944, 225 soldados de elite saltaram de aviões ingleses e correram para a base do penhasco.

Sua missão era uma das mais difíceis e desafiantes da invasão: Escalar aqueles íngremes penhascos e destruir as armas do inimigo. Os aliados tinham sido avisados de que algumas das mais poderosas dessas armas estavam ali, instaladas nas praias para evitar o avanço de suas tropas.

Aqueles soldados olharam e viram os soldados inimigos na beira dos penhascos atirando neles com metralhadoras e jogando granadas. Os soldados americanos começaram a escalar. Eles atiraram a corda por cima daqueles penhascos e começaram a puxar a si mesmos para cima. Quando um soldado caía, outro tomava seu lugar. Quando uma corda era cortada, pegavam outra corda e começavam a escalar novamente. Eles escalavam atirando de volta, enquanto se seguravam pelos pés. Logo, um após o outro, os soldados chegaram ao topo, e, pisando em terra firme no topo daqueles penhascos, eles começaram a tomar de volta o continente europeu. 225 chegaram até a praia. Depois de dois dias de batalha, somente 90 eram capazes de sustentar uma arma.

E atrás de mim está um memorial que simboliza a lança daqueles soldados que alcançaram o topo deste penhasco. E na minha frente os homens que os colocaram lá. Estes são os garotos do Pointe du Hoc. Estes são os homens que tomaram o penhasco. Estes são os campeões que ajudaram a libertar um continente. E estes são os heróis que ajudaram a terminar uma guerra. Senhores, eu olho para vocês e penso nas palavras de Stephen Spender´s. Vocês são homens que em suas “vidas lutaram por vida e deixaram uma vívida atmosfera assinadas com sua honra”.

Eu acho que eu sei o que vocês podem estar pensando neste momento. Estão pensando que “nós fomos apenas uma parte de um grande empenho, todos foram corajosos naquele dia.” Bem, todos foram. Vocês lembram da história de Bill Millin do 51º batalhão highlander? 40 anos atrás, tropas inglesas foram cercadas perto de uma ponte, esperando desesperadamente por ajuda. De repente eles ouviram o barulho de gaitas de fole e alguns até pensaram que estivessem sonhando. Não estavam. Eles olharam para cima e viram Bill Millin com suas gaitas de fole liderando os reforços e ignorando os estalos de bala no chão ao redor dele.

Lord Lovat estava com ele – Lord Lovat da Escócia, que calmamente anunciou quando ele chegou à ponte, “Desculpem, eu estou alguns minutos atrasado” como se ele tivesse pegado algum tráfego até chegar lá, quando na verdade tinha acabado de chegar de uma sangrenta batalha em Sword Beach, que eles e seus homens tinham travado.
Tinha o insuperável valor dos polacos que lançaram eles mesmos entre o inimigo e o restante da Europa quando a invasão se fez presente; E a imbatível coragem dos canadenses que já tinham visto o horror da guerra na praia. Eles sabiam o que esperava eles lá, mas isso não os deteve. E uma vez que chegaram à praia de Juno, eles nunca olharam pra trás.

Todos esses homens eram parte de uma lista de honra com nomes que falavam de um orgulho tão brilhante quanto as cores pela qual lutavam. As forças reais canadenses, os lanceiros poloneses, os fuzileiros escoceses, o esquadrão screaming eagles, a divisão da armada inglesa, as forças de liberdade francesa, a guarda costeira “Matchbox fleet” e vocês, soldados de elite do exército americano.

40 verões se passaram desde a batalha que vocês travaram aqui. Vocês eram jovens no dia que tomaram esse penhasco, alguns de vocês eram pouco mais que adolescentes com grandes prazeres da vida pela frente. Ainda assim vocês arriscaram tudo aqui. Por quê? Por que vocês fizeram isso? O que impeliu vocês a colocar de lado o instinto natural de preservação e arriscar suas vidas para tomar esses penhascos? Que inspiração todos esses homens de todos esses exércitos encontraram aqui? Nós olhamos para vocês e de alguma forma sabemos a resposta. Foi por fé e convicções, lealdade e amor.

Os homens de Normandia tinham fé que o que eles estavam fazendo era certo, fé que lutavam por toda a humanidade, fé de que apenas Deus concederia Sua misericórdia na praia, ou depois dela. Essa foi nossa sabedoria – e agradecemos a Deus por não termos perdido isso. – Era a grande diferença moral entre o uso da força para libertação e o uso da força para conquista. Vocês estavam aqui para libertar, não para conquistar, e por isso vocês e os outros não duvidaram da causa. E estavam certos em não duvidar.

Vocês todos sabiam que algumas coisas são dignas de lutar até a morte. É honravel morrer por um país, ou pela democracia que é de longe a forma de governo mais digna criada pelo homem. Vocês todos amavam a liberdade. Todos vocês desejavam lutar contra a tirania, e sabiam que as pessoas dos seus países estavam atrás de vocês...

Os americanos que lutaram aqui naquela manhã sabiam que a ordem da invasão estava se propagando através da escuridão em suas casas. Eles lutaram – e sentiram em seus corações, apesar de não poderem saber de fato, que em Geórgia, suas famílias estavam lotando as igrejas as 4:00 da manhã. No Kansas eles se ajoelhavam em suas próprias varandas para orar. E na Filadélfia, os sinos da liberdade estavam sendo tocados.

Algumas coisas mais ajudaram aqueles homens no dia D, suas inquebráveis convicções deram uma grande mão nos eventos que se desenrolaram aqui; de que Deus era um aliado nessa grande causa. E, na noite anterior a invasão, quando o Coronel Wolverton pediu para sua tropa pára-quedista se ajoelhar e orar com ele, ele falou: “Não abaixem suas cabeças, mas olhem para o alto e verão a Deus, peçam suas bênçãos para o que estamos por fazer.” Também naquela noite, General Matthew Ridgway, em sua cama, ouviu na escuridão a promessa que Deus fez a Jesus: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.”

Essas foram as coisas que motivaram eles, essas são as coisas que deram forma à unidade dos aliados.
Quando a guerra acabou, existiam vidas para serem reconstruídas e governos para serem entregues de volta ao povo. Nações para renascerem. E acima de tudo, uma nova paz para ser assegurada. Estas eram grandes tarefas. Mas os aliados invocaram força de suas convicções, fé, lealdade e o amor daqueles que tombaram aqui. Reconstruíram uma nova Europa, juntos. Foi a primeira grande conciliação entre aqueles que outrora tinham sido inimigos, todos eles tinham sofrido bastante. Os Estados Unidos fizeram a parte deles criando o Plano Marshal para ajudar a reerguer nossos aliados e também nossos inimigos. O plano Marshal liderou a aliança do Atlântico – a grande aliança que serviu naqueles dias como nosso escudo para a liberdade, prosperidade e paz.

Ao contrário dos nossos esforços e sucessos, nem tudo que seguiu o fim da guerra foi bom ou planejado. Alguns países libertados estavam arruinados. A grande tristeza dessas perdas ecoa até o nosso tempo pelas ruas de Warsaw, Praga, e oeste de Berlim. As tropas soviéticas que vieram até o centro desse continente, não os deixaram depois que a paz chegou. Eles ainda estão lá, sem convite, não desejados, não rendidos, 40 anos depois que a guerra acabou. Por causa disso as forças aliadas ainda estão de pé nesse continente.
Hoje, como há 40 anos atrás, nosso exército está aqui por apenas um motivo: Proteger e defender a democracia. Os únicos territórios que possuímos são os memoriais como este aqui e as tumbas onde nossos heróis descansam.

Nós, na América, temos aprendido amargas lições de duas guerras mundiais. É melhor estar aqui pronto pra defender a paz do que estar cegamente abrigado no outro lado do oceano, e ter que responder as pressas somente quando a liberdade estiver perdida. Nós aprendemos que o "isolacionismo" nunca foi e nunca será uma resposta aceitável para governos tirânicos com idéias de expansão. Mas tentamos sempre estar preparados para a paz, preparados para desencorajar agressões, preparados para negociar a redução de armas, e sim, preparados para estender a mão de novo em espírito de reconciliação. De fato, não existe conciliação mais bem quista do que a conciliação com a União Soviética pra juntos poder acabar com os riscos de guerra, agora e para sempre.

Cabe lembrar aqui das grandes perdas também sofridas pelo povo russo na segunda guerra mundial. Vinte milhões pereceram, um terrível preço que testifica para todos a necessidade do fim da guerra. Eu falo pra vocês do meu coração que os Estados Unidos da América não querem guerra. Nós queremos limpar da face da terra as terríveis armas que o homem tem agora em mãos. E eu falo pra vocês, nós estamos prontos para assegurar a tomada desse objetivo. Nós procuramos por algum sinal da União Soviética de que eles estão desejando seguir em frente, que eles querem compartilhar do nosso desejo de amor e paz, e que eles desistirão das suas intenções de conquista. Alguma mudança deve acontecer por lá para que possamos transformar nossa esperança em ação.

Nós oraremos sempre, para que esse dia de mudança possa chegar. Mas por agora, e particularmente hoje, é necessário renovar nosso compromisso uns com os outros, por nossa liberdade, e pela aliança que a protege.

Estamos ligados hoje pelas mesmas questões que estávamos ligados há 40 anos atrás, a mesma lealdade, tradições e crenças. Nós estamos vinculados pela realidade. A força dos aliados da América é vital para os Estados Unidos, e a garantia dessa segurança é essencial para a continuidade das democracias européias. Então nós estamos com vocês; Nós estamos com vocês agora. Suas esperanças são nossas esperanças, e seus destinos são nossos destinos.

Aqui, neste lugar onde o oeste se manteve unido, façamos um juramento pelos nossos mortos. Vamos mostrar pra eles pelas nossas ações que nós entendemos porquê eles morreram. Que as nossas ações digam pra eles as palavras que Matthew Ridgway ouviu: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.”

Fortalecidos por suas bravuras, encorajados por seus valores, e nascidos pelas suas memórias, continuaremos em pé pelos ideais pelo qual eles viveram e morreram.

Muito obrigado, e que Deus os abençõe.

(Tradução: André Felipe)

Nenhum comentário:

Postar um comentário